Da Desconfiança ao Tetracampeonato com o Napoli



A chegada de Antonio Conte ao Napoli foi recebida com grande entusiasmo, com a expectativa de que o novo treinador, conhecido por sua mentalidade vitoriosa, pudesse levar o clube a um "novo Renascimento". Em seu discurso de apresentação no Palácio Real, Conte deixou claro sua determinação, afirmando que não temia treinar o Napoli e que seu objetivo era transformar a equipe em uma alternativa real aos times que historicamente dominam o campeonato italiano.

Apesar de sua identificação anterior com a Juventus, onde fez história, Conte rapidamente tentou conquistar a torcida do Napoli. Durante a pré-temporada no Trentino, ele impôs seu rigoroso "MÉTODO CONTE", que envolve intenso treinamento físico, levando até mesmo o robusto jogador Anguissa à exaustão. Quando a torcida do Napoli, em um momento de euforia, entoou um canto provocativo contra a Juventus ("Quem não pular é juventino é"), Conte prontamente interveio, pedindo que não lhe pedissem para fazer algo contra seus princípios, mas garantindo que ele seria o "primeiro torcedor do Napoli", o que gerou uma grande ovação.

O início da temporada foi desafiador. O mercado de transferências foi complicado devido ao caso envolvendo a saída de Osimhen. Na primeira rodada do campeonato, o Napoli sofreu uma humilhante derrota por 3 a 0 para o Verona, com um segundo tempo considerado "indigno". Conte não hesitou em assumir a responsabilidade e pedir desculpas publicamente aos torcedores, expressando sua profunda frustração e a esperança de que os jogadores sentissem o mesmo.

A equipe precisava reencontrar seu espírito e suas certezas. A chegada de reforços de peso no final da janela de transferências, como McTominay, Gilmour, David Neres e, principalmente, Lukaku, que é um jogador de confiança de Conte, foi fundamental. No terceiro jogo do campeonato, contra o Parma, Lukaku entrou no final da partida e operou uma virada mágica, transformando um placar de 0-1 para 2-1 a favor do Napoli. Esse momento marcou o início de uma ascensão inesperada da equipe, com Conte assumindo a liderança da tabela de forma contundente. A imprensa, baseada no histórico de Conte, começou a repetir a máxima de que "quando Antonio vai em frente, ninguém mais o pega".

O campeonato se transformou em uma disputa direta entre Inter e Napoli. O confronto direto em San Siro terminou em 1-1, com Çalhanoğlu perdendo um pênalti para a Inter. Após a partida, Conte se manifestou veementemente sobre a intervenção do VAR, criticando a forma como foi usada e expressando sua frustração, dizendo que tais erros "deixam espaço para segundas intenções".

Conte encerrou o primeiro turno na liderança da tabela, um feito para ser comemorado. No entanto, o mercado de inverno trouxe uma reviravolta negativa: Kvaratskhelia, considerado o principal jogador do Napoli, foi vendido para o Paris Saint-Germain. Conte não escondeu sua decepção, afirmando que o jogador havia pedido para sair e que ele "dava um passo para trás". A tentativa de substituir o georgiano foi frustrada, com nomes como Garnacho (Manchester United), Adeyemi (Borussia Dortmund), Saint-Maximin (Al-Ahli) e Okafor (Milan, que foi rejeitado pelo Leipzig) sendo especulados e não concretizados. Conte ficou furioso, e rumores de bastidores indicavam sua insatisfação por não ter o jogador de reposição à altura de Kvara, sentindo que a equipe não havia se fortalecido.

Em meio a essa turbulência, Conte isolou a equipe e intensificou o trabalho no centro de treinamento do Napoli, restringindo o acesso a pessoas de fora da comissão técnica. Apesar dos esforços, o Napoli começou a enfrentar dificuldades, com uma série de empates, viradas sofridas no último minuto e uma sequência de lesões, que o técnico atribuiu a "azar" ou "má sorte". O Napoli perdeu a liderança para a Inter.

O confronto direto entre Napoli e Inter pelo scudetto terminou novamente em 1-1, com um gol decisivo de Billing para o Napoli no final da partida, que Conte chamou de "homem do destino". Conte expressou que a equipe merecia mais, reconhecendo a força da Inter como uma "encouraçada construída ao longo dos anos", mas enfatizando que o Napoli, com caráter e determinação, poderia disputar o título. O presidente Aurelio De Laurentiis usou as redes sociais para expressar euforia e exaltar a equipe e o treinador, declarando abertamente a ambição pelo scudetto e desconsiderando qualquer superstição. Conte adotou o grito de guerra "Serão 10 finais".

O campeonato continuou com reviravoltas. O Bologna causou um tropeço "fatal" à Inter, e a Roma, sob o comando do ex-treinador Claudio Ranieri, não se deixou abalar por sentimentalismos, permitindo que o Napoli retomasse a liderança. No entanto, a felicidade foi breve, e o Monza se tornou o palco de uma nova crise para Conte. Na véspera da partida contra o Monza, Conte desabafou, dizendo que "em oito meses em Napoli entendi que certas coisas não se podem fazer". A resposta "pacata" do presidente De Laurentiis por rádio, sugerindo que tais reflexões fossem feitas no final da temporada, gerou especulações de que ele havia sido convencido a não reagir de forma mais explosiva.

Após a vitória por 1-0 contra o Monza, Conte fez um novo pronunciamento explosivo, afirmando que ele traz expectativas de "primeiro ou segundo lugar", que pode ser fiador, mas não é "estúpido", exigindo um planejamento sério e não "milagres". Ele expressou sua recusa em ser "massacrado" e sua determinação em tentar vencer o campeonato pelos jogadores, que "se matam" em campo. Conte também defendeu a necessidade de respeito e criticou transmissões que falavam coisas "sem nexo", declarando a necessidade de se proteger e que, se não fosse possível, a jornada teria sido "linda".

A situação gerou rumores intensos sobre uma possível separação ou adeus de Conte e até mesmo a especulação de que a Juventus estaria por trás de tudo. O futuro de Conte virou notícia de primeira página. Apesar das adversidades, o Napoli ainda desperdiçou uma boa oportunidade contra o Genoa, mas as chances de título ainda existiam.

A partida contra o Parma foi uma "montanha-russa de emoções". O Napoli não conseguiu marcar, enquanto a Inter marcou com Bisseck, assumindo a liderança provisoriamente. No entanto, um gol de Pedro, jogador da Lazio, mudou a classificação novamente, mantendo o Napoli em primeiro. Conte estava tenso e nervoso, sendo expulso. Depois, outro gol da Inter, outra ultrapassagem, mas, para a alegria dos napolitanos, veio um novo gol de Pedro (San Pedro de Tenerife), consolidando o Napoli novamente na liderança.

Com isso, o Napoli se manteve em primeiro lugar. O "comandante" Conte evitou o trauma de outro 14 de maio, uma data "nefasta" para ele, que em sua carreira como jogador da Juventus, em uma última rodada chuvosa em Perugia, viu a Lazio roubar o scudetto. A ironia do destino fez com que a Lazio, que antes lhe tirou um título, agora lhe devolvesse a chance. Conte, exausto, ainda tinha o destino em suas mãos. Apesar das emoções intensas e de uma declaração inicial de "rendição" ("é demais para mim, é demais esta cidade para mim"), ele proferiu um grito de batalha à la William Wallace de "Coração Valente": "Vamos conquistar o scudetto".

E assim foi. A vitória sobre o Cagliari garantiu o S-C-U-D-E-T-T-O. Uma apoteose de festa e celebração. O Napoli se tornou campeão italiano pela quarta vez em sua história, e Antonio Conte conquistou seu quinto scudetto como treinador, um feito lendário e inédito em mais de um século de Série A, vencendo o título com três clubes diferentes: Juventus, Inter e Napoli.









Postar um comentário

0 Comentários